quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

O homem que era professor




No outro dia ao ver uma reportagem sobre os chamados mendigos fiquei a pensar nisso. Era Natal, estava a decorrer um daqueles almoços de solidariedade e a jornalista foi contando a história de vida de cada um. É incrível, como há pessoas que simplesmente passam duma vida "normal" para o anonimato puro e duro. Porque a isso foram obrigadas por questões financeiras, por questões mentais, ou porque simplesmente não têm identidade jurídica em Portugal. Não têm passsaporte, não têm título de residência, nem contribuinte, nem documento algum que diga, este/a É fulano tal. São demais as razões, para a nossa razão.


Conheci no outro dia, um desses exemplos. Ao pé da Polícia Judiciária, ali ao pé do Liceu Camões, vive um homem que já foi professor, nesse mesmo liceu. Dizer que "vive" aí, é uma forma simpática de dizer, porque na verdade ele pernoita por ali e, durante o dia, vai atazanando quem passa, soltando impropérios em voz alta e grave, diambulando de cá para lá e de lá para cá, sem rumo definido. Segundo soube, o homem que era professor já deu aulas ali mesmo, tendo-se tornado mendigo sabe Deus porquê. A verdade, é que de respeitado cidadão, passou a ser escorraçado dos cafés que antes frequentava, como se se tratasse dum cão com sarna. Assisti a isso, com um elemento da PJ que nesse dia me acompanhava numa diligência e que foi obrigado a exercer a sua autoridade quando, o homem que já foi professor, se começou a meter comigo, soltando frases sem nexo em plenos pulmões. O homem que já foi professor, apenas lá tinha ido pedinchar um pão e foi escorraçado que nem um cão... Fiquei triste. E triste ficou também o PJ que me contou esta história, com um semblante pesado. Ninguém sabe o que deu origem a esta repentina mudança de vida, se a falta de colocação dos nossos professores, que dá origem a graves crises financeiras, se um divórcio mal acabado, se problemas de álcool... O que seja, alterou a vida daquele homem, que de professor passou a indigente, apregoando a sua desgraça pelas ruas de Lisboa...

2 comentários:

M disse...

Su

é realmente triste e espero nunca ter esse fim. Mas, se uns acabam nessa miséria à conta de infortúnios, outros estão por recusarem ajudas de quem os quer.

Su disse...

Allie: é verdade... Eu tenho medo da velhice e de não ter meios para subsistir. Não é fácil reconhecer que precisamos de ajuda, porque aí passamos a depender dos outros.
Bjks

 
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